Temas Acadêmicos

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Extração não é uma opção!

Por: Dr. José Eraldo de Andrade Silva

-Extrair? Nunca! - era essa a concepção do Pai da Ortodontia Moderna, Edward H. Angle em 1900, que preconizava a expansão (alargamento) dos arcos para posicionamento de todos os dentes, sem admitir a perda de qualquer um.

Com a morte do Pai da Ortodontia em 1930, Charles Henry Tweed, que seguia a filosofia de Angle, realizava todos tratamentos ortodônticos sem extração, no entanto, percebeu que os objetivos dos tratamentos propostos eram alcançados em apenas 20% dos casos, comprovando assim a necessidade de extração dos primeiros pré-molares, visando a estabilidade da oclusão e um melhor equilíbrio das arcadas dentárias. Calvin Case e Martin Dewey, opositores de Angle, continuavam a defender extrações dentárias para os casos mais extremos de apinhamentos, por observarem que em alguns casos recidivavam por não apresentarem estabilidade. A primeira atitude era indicar a extração dos terceiros molares para aliviar os apinhamentos em potencial. Em muitos casos, só a extração dos terceiros molares e a expansão dos arcos não seriam suficientes pois os primeiros pré-molares eram removidos para um tratamento ortodôntico satisfatório.

Com o advento da Cefalometria, Tweed desenvolveu uma análise, a partir de estudos em modelos de gesso e fotografias de pessoas com oclusão normal e não tratadas ortodonticamente. Para isso, foram obtidos modelos articulados, fotografias e radiografias que abrangeram 80 por cento de todos os casos tratados. A análise de Tweed é baseada na relação dos incisivos inferiores com o rebordo da mandíbula. A partir desse achado ele estabeleceu o triângulo de diagnóstico facial. Então, iniciou-se o retratamento de alguns casos instáveis com as extrações dos primeiros pré-molares, o que resolvia o problema. Isto levou a ortodontia a tomar um novo rumo, chegando ao abuso por alguns profissionais descuidados de acreditar que as extrações seria mesmo a solução. Assim, ocasionada por atitudes precipitadas e sem uma avaliação profunda do estudo dos arcos, da cefalometria, das discrepâncias dentárias e análise facial que ainda permeiam no campo dessa especialidade. Tais procedimentos esses que devem ser analisados em conjunto, visto ser a extração um procedimento radical e irreversível.

A extração pode comprometer a relação entre maxila e mandíbula quando não há um correto controle desses espaços. Pode também comprometer o perfil do paciente. Sendo paciente leucoderma, o perfil de harmonia facial, deve ser um perfil reto; para o melanoderma o perfil observado é um perfil convexo, devido a biprotrusão dentária. Outra observação a ser considerada é a ATM. Deve-se considerar se existe disfunção temporomandibular e se o côndilo está na sua posição ideal (ântero-superior na cavidade articular).

Nunca recomende uma exodontia para fins de tratamento ortodôntico, mesmo em casos de extração seriada, sem que antes seja observada:

1- A Classificação de Angle – Classe I, II ou III;

2- Casos de agenesia ou supranumerário;

3- Saber se o arco permite uma expansão (ver análise de Junqueira);

4- Ver a possibilidade de distalização dos molares superiores;

5- Saber se os incisivos inferiores permitem sua vestibularização (Análise de Steiner);

6- Conhecer a discrepância do volume dentário (Análise de Bolton);

7- No caso de extração, saber qual o dente de maior comprometimento pulpar;

8- Se o perfil do paciente permite a extração (segundo Holdaway, observar H-Nariz);

9- A futura possibilidade do posicionamento do dente no arco (nunca extrair dentes anteriores ectópicos em pacientes jovens);

10- Indicação para desgastes (Stripping ou Slice), segundo Bolton;

11- Conhecer a tipologia facial (dolico, meso ou braquifacial)

12- Examine se o paciente apresenta macroglossia (com a extração dentária, o arco diminui seu perímetro);

13- A idade do paciente é um fator a ser considerado nos casos de extração);

14- Outras limitações clínicas.

O método de Baker tornou-se conhecido em 1944 e foi amplamente divulgado, justificando a exodontia dos dentes permanentes, inclusive dos primeiros molares permanentes. Tudo isso exige considerações criterosas e não meramente uma atitude irresponsável e leiga. Vale a pena lembrar: "E, como vós quereis que os homens vos façam da mesma maneira lhes fazei vós também". (Lucas 6:31).